Os Dez Mitos do Empreendedorismo

Trabalhe 4 horas por semana 2

Empreendedorismo traz felicidade? Quem sai na frente faz mais sucesso? A vida sem chefe é melhor? Essas são algumas das questões que povoam a mente do futuro empreendedor antes de decidir-se a iniciar seu próprio negócio e dar adeus á vida de assalariado. Compreendedor essas questões e evitar uma decisão baseada numa mera fantasia é o primeiro passo para evitar trilhar uma estrada que nem sempre é pintada de cor de rosa.

O empreendedorismo ganhou o status de sonho número um no mundo contemporâneo. Quantas vezes você já ouviu a história de alguma figura história que tem um genial insight, resolve virar a própria mesa e embarcar numa jornada em busca de um sonho que, após realizado, o tornou milionário. À parte os exemplos concretos de sucesso , muitas dessas histórias são meras fantasias,  e o prejuízo emocional e financeiro advindo de uma decisão precipitada pode ser gigantesco.

Numa analogia com o mundo animal, o empreendedor é como um homem que resolve montar num leão. As pessoas pensam: como essa cara é corajoso! Só que ele próprio deve estar pensando: como é que eu fui subir num leão, e como é que eu faço para não deixar ele me comer?

Em sua edição de agosto, a revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios elencou  dez mitos sobre o empreendedorismo, resultado de entrevistas com vários empreendedores, investidores e estudiosos da economia criativa, os quais podem agir como verdadeiras pedras no meio do caminho, a seguir resumidos:

1 – Meu Empreendedor, Meu Herói

Lider Vulnerável

 

O primeiro mito é aquele que associa o empreendedor á figura de um herói. No início era o “herói visionário”, aquele cara que teve uma ideia genial e uma capacidade extraordinária de envolver e motivar pessoas e criar uma empresa vencedora.Agora, segundo Igor Tasic, fundador da Startup Europe Week, estamos migrando para o “herói workaholic mindful”, que designa o cara que trabalha duro, cria tudo junto com a equipe, mas também medita e mostra uma vida “equilibrada” no Instagram

Segundo Tasic, o mito do herói perfeito está tão institucionalizado que passa a impressão de que existem características genéticas para determinar quem será um empreendedor. “Na verdade, empreender requer um aprendizado continuo e uma habilidade que pode se desenvolver como qualquer outra”, diz ele.

2 – O dono do negócio não pode falhar

Perfecionismo 2

 

“Meu maior problema é o perfeccionismo”. Quem nunca leu uma declaração como essa,em que o intrépido dono de um negócio trata uma fraqueza como uma qualidade?Á parte de acreditar que um empreendedor deve ser alguém com atributos perfeitos, essa frase esconde outro mito: o que de que ele jamais pode mostrar fragilidade.

A ideia do empreendedor infalível, que tem sempre as respostas certas para qualquer situação gera uma pressão descomunal, que leva ao medo de hesitar ou demonstrar dúvidas. O erro muitas vezes é o dínamo que projeta um evento bem sucedido. Ao cometer erros e aprender com eles, você estará mais apto a acertar da próxima vez, fornecendo aprendizado para uma nova tentativa.

3 – Todo empreendedor é otimista

Outra fantasia é a de que todo empreendedor esbanja otimismo, mais sorridente do que vendedor de mate com  limão no verão carioca, “O pioneiro empreendedor é um realista!, afirma Jacques Marcovitch, professor emérito da FEA/USP e autor da trilogia Pioneiros e Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil. Ele leva em conta os cenários otimistas e pessimistas, além de suas variantes. Analisa riscos, enfrenta adversidades, supera desafios e encontra novos caminhos, sendo o principal responsável pelo seu destino.

Se, ao contrário, o empreendedor, montado numa visão excessivamente otimista, achar que no final tudo vai dar certo, corre o risco de deixar um monte de coisas inacabadas pelo caminho e terminar escutando a frase demolidora: “Desista! Você não dá para isso”. Nem todo toda a energia para abrir um negócio provém do otimismo. Ás vezes, um “não” ou um tropeço inicial pode ser o combustível para dar uma motivação a mais para o empreendedor se tornar um pessimista positivo – aquele  que se planeja melhor, executa com mais cuidado e revisa três vezes, o que tende a gerar um resultado mais bem acabado.

4 – Quem abre uma empresa fica rico

Empreendedor só pela motivação de ganhar dinheiro levará certamente ao fracasso. O retorno financeiro só vem a longo prazo e depois de muita persistência, sempre sob o risco permanecente de se perder tudo o que se investiu. “Quem pensar só no dinheiro vai desistir no meio do caminho e nunca será um empreendedor”, afirma Cássio Spina, fundador da Anjos do Brasil. “Donos de negócio de alto impacto acreditam que podem solucionar um problema e mudar a sociedade para melhor. O dinheiro é secundário frente ao desafio de construir algo maior. Muitos passam anos até começarem a ter lucro”, diz ele.

5 – Sem (Muito) Dinheiro não dá para crescer

A falta de recursos financeiros é apontada como um dos principais desafios dos empreendedores brasileiros. Porém,  necessidade de ter um grande capital para investir ou para fazer o negócio crescer não deve ser vista como um entrave para o empreendedor. A maioria dos pequenos empreendimentos começa com recursos próprios, de familiares ou de amigos. O empreendedor vai necessitar de maiores recursos na hora de “prototipar” a ideia, validar seu produto e mercados e também para negociar com investidores e fundos.

No entanto, ás vezes ter muito dinheiro no inicio pode gerar problemas, levando o empreendedor a escalar o negócio muito antes da hora adequada, sem focar no momento presente Segundo Maure Pessanhe, diretora da Artemisia, organização de fomento a negócios de impacto, existem casos em que a empresa está crescendo num ritmo acelerado, mas o empreendedor não reuniu o capital necessário para atender a demanda.

6 – Adeus, Chefe

Workhaolic

 

A ideia do “busque fazer o que ama” sempre teve e ainda tem um grande apelo para o futuro empreendedor porque as pessoas estão sempre insatisfeitas nos seus cubículos e se sentem injustiçadas no mundo corporativo. A saída fácil, então, é empreender. O problema é que aqueles que decidem iniciar um negócio próprio por esse motivo logo descobrem que a coisa é mais complicada do que parecia de inicio.

Ao lado da fantasia romântica de demitir o próprio chefe, está o sonho dourado de administrar a própria agenda, ter tempo para fazer o que gosta e ganhar mais espaço em sua vida privada. “A ideia de que o empreendedor trabalha menos e tem mais liberdade é um dos maiores mitos da área” – afirma Maure Pessanha. “As demandas são diferentes, mas a responsabilidade é muito maior na maioria dos casos. É comum o próprio negócio virar o chefe do empreendedor, seja na figura do investidor, seja na pessoa do cliente”, diz ela.

7 – Quem chega antes se dá melhor

Para refutar essa tese, vamos nos valer dos ensinamentos de um dos grandes empreendedores de nosso tempo: Steve Jobs. Como se sabe, criador da Apple não criou nada, nem mesmo o nome de sua empresa, inspirado na gravadora dos Beatles, que veio a falir mais tarde.

O que Jobs fez, ao lado de seu parceiro, o genial Steve Wozniak, foi perceber que a convergência de uma série de inovações criadas por diferentes empresas( o mouse, a interface gráfica, os ícones, etc) faria grande sucesso caso fosse bem “empacotada”. Basta lembrar que o Ipod veio depois dos MP3 players.

A supremacia do sistema operacional IOS e de vários produtos vinculados á matriz do velho Macintosh demonstra claramente que, mais importante do que ter uma boa ideia, é saber entregá-la. Na verdade, de boas ideias o mundo está cheio. O que faz a diferença é uma boa execução – o que depende de fatores como liderança, equipe, talento e planejamento.

8 – É preciso escalar

Se não crescer rápido, não vira”, proclamam certos gurus do empreendedorismo. A escala do negócio, ou seja, a velocidade do crescimento, é o novo graal do empreendedorismo. Imortalizada pelo best-seller Organização Exponencial, de Salim Ismail, a expressão “crescimento exponencial” (acelerado e constante) virou o objetivo maior  de muitos empreendedores.

Na realidade, porém, a escala é só uma das formas de se criar e manter um negócio que faça bem para o mundo – mas não a única. Existem empresas que investem tanto no crescimento que esquecem de fazer a lição de casa.

Um erro clássico é, antes de provar o modelo de negócios, o empreendedor se mudar para um escritório maior, comprar outras empresas e expandir para outros países, para depois se dar conta – ás vezes, tarde demais – que ainda não havia demanda suficiente para justificar a ampliação do negócio,gerando prejuízos incalculáveis.

9 – Empreender é a receita da felicidade

Em quase todas as áreas de interesse, há sempre uma legião de oportunistas. Gente que fala do que não sabe, que dá receita de bolo para resolver angústias existenciais, que vende sopa rala como se fosse creme espesso – gente, enfim, que explora as fragilidades do publico de modo a eternizar as demandas pelos serviços que prestam.

Embora isso exista na religião, na medicina, no Direito, não há demanda maior para esse tipo de engodo do que na área do empreendedorismo, um campo fértil para a proliferação de soluções mágicas e pilulas de felicidade.

“Infelizmente se construiu uma visão idílica e utópica sobre o ato de empreender, mas pouco se fala sobre a relação entre a depressão e o empreendedorismo”, diz Tasic. E, segundo ele, não são incomuns os os casos de pessoas que passaram por problemas psicológicos graves ao se deparar com a realidade do empreendedorismo, a realidade do desconhecido, a realidade da negação, etc. “Mas isso é pouco falado porque rompe o “modelo Zuckerberg de sucesso”

10 – Especialistas sabem tudo

Quem chegou até aqui deve estar se questionando sobre se os autor desse texto é um especialista no assunto. Nada disso: jornalistas e escritores vivem de fazer perguntas. Aos gurus de negócios cabe dar as respostas – embora nem sempre saibam do que estão falando.

Com o hype do empreendedorismo, têm surgido muitos empreendedores e investidores que nunca fizeram nada de significativo, mas posam de experts. Por aqui, esse problema é maior. No Vale do Silício, nos Estados Unidos, ou na China, os especialistas criaram negócios, o que lhes dá autoridade para falar. Mas no Brasil, com raras exceções, ninguém ainda não inventou nada em termos de tecnologia, daí porque é preciso desconfiar de suas recomendações.

Outro exemplo de falso especialista é o daquele executivo bem sucedido, acostumado a pilotar grandes corporações, que resolvem dar dicas para empreendedores – quase sempre erradas. Executivos trabalham com métricas de eficiência e controle de custos, e seguem á risca os planos de negócio. Só que o inicio de uma empresa de tecnologia é todo voltado para a experimentação. Assim, se você não testar, não arriscar, e até desperdiçar um pouco, a empresa não vai criar a cultura da inovação.

Para Maure Passanha, há muita ilusão associada ao empreendedorismo. “Não se trata de uma ciência exata, por isso é importante estudar e aprimorar técnicas. Mas cada empreendedor precisa achar seu caminho, conversando com especialistas, mentores, mas sobretudo vivendo a prática, conversando com clientes, saindo á rua”.

Uma crença associada á dos especialistas é aquela que aponta o empreendedor como dono da verdade. A ela se contrapõe Daniel Chalfon,sócio na Astela Investimentos, empresa de venture capital. “Dá para ter experiência acumulada, dá para ter mil estatísticas na cabeça, mas mesmo assim não dá para afirmar que a gente sabe o que vai acontecer com o negócio. O destino é sempre improvável, mas a experiência e o conhecimento ajudam a encurtar o caminho”, diz ele.

Esse é mais um mito para tirar do caminho. Sem eles, a estrada para a criação do seu próprio empreendimento fica mais livre.

Deixe um comentário