Carreira: Como Lidar com o Pinóquio Corporativo

Persuasão 2

Levante o braço quem nunca contou uma mentira no ambiente de trabalho! Você pode até não querer ou mesmo não se lembrar mas é muito provável que não esteja  nesse time.

Quem garante são os especialistas em comportamento, que definem a mentira como uma espécie de autodefesa, necessária á sobrevivência na sociedade. Há mesmo quem diga que a mentira segue uma espécie de principio da Lei de Pareto, também conhecida como a regra dos 80/20. Assim, 20% das pessoas contam 80% das lorotas, enquanto os 80% restantes contam as outras 20%.

No ambiente corporativo, essa realidade não é diferente. Valorizar o currículo com experiências e habilidades inexistentes ou maquiar ou ocultar pontos fracos e deslizes na carreira são alguns dos exemplos clássicos. Levantamento feito recentemente pela DNA Outplacement revelou que 75% dos entrevistados mentem no CV. Informações sobre salários no último emprego, domínio do inglês, tempo de inatividade e qualificações profissionais são as principiais inverdades.

Esse problema não discrimina estagiários e altos executivos. O que pode variar é o grau de elaboração, mas todos dizem alguma inverdade. E dessa realidade não escapam nem mesmo autoridades e pessoas mais qualificadas. Há pouco tempo, o  ex- governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e a professora e pesquisadora Joana D’Arc Félix de Sousa, viraram noticia por terem inflado o currículo com qualificações que não têm, ele, um doutorado em direito; ela um pós-doutorado em química, ambos pela prestigiosa Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Mas nem toda mentira deve ser julgada pelo viés moral. Pense naquela desculpa que você inventou para escapar de um almoço ou café com aquele colega chato. Ou quando tranquilizou o chefe dizendo que estava concluindo uma tarefa que mal havia começado.Ou quando deixou de dar uma opinião sincera sobre a roupa, o corte de cabelo, ou ideia de algum colega de trabalho.

Escala de gravidade de algumas das mentiras mais contadas no ambiente de trabalho

Toleráveis

  • inventar uma desculpa, de vez em quando, para chegar mais tarde ou sair mais cedo;
  • elogiar o desempenho ou aparência de alguém só para agradar a um colega ou gestor;
  • dizer “estou terminando” quando está iniciando ou ainda nem começou uma tarefa;
  • “não recebi seu e-mail”, quando esqueceu dele ou não abriu a sua caixa de mensagens;
  • quando inventa uma desculpa ou uma pendência para escapar de um almoço com um colega indesejado

Perigosas

  • exagerar no currículo ou na entrevista de emprego em relação á fluência ou outro idioma ou ao domínio de uma habilidade específica, o que é menos grave quando a competência em questão não é imprescindível para função diária ou há espaço para ser desenvolvida.
  • agir contra as normas de conduta da empresa, como, por exemplo, aceitar vantagens (materiais ou não) quando isso é vetado pela companhia.
  • pegar sozinho o crédito por um trabalho feito pela equipe

Imperdoáveis

  • apresentar documentos adulterados de atestados médicos e certificados de ensino;
  • mentir no currículo ou entrevista de emprego em relação á experiência anterior ou formação e qualificação profissional, entre outras invenções, que possam, comprometer o desempenho na função para a qual foi contratado
  • criar histórias envolvendo colegas de trabalho, como participação em atos ilícitos, envolvimento intimo ou qualquer outra coisa que possa ser ofensivo á outra pessoa
  • alterar documentos ou manipular informações da empresa para fins internos, externos ou particulares.

Nunca se mentiu tanto no ambiente de trabalho quanto após o surgimento dos e-mails e das redes sociais. Estudo realizado por psicólogos da Universidade de Masssachusetts Amherst concluíram que se mente três vezes mais nas comunicações de texto do que nos contatos olho no olho.

Para os pesquisadores, a tecnologia permite um distanciamento psicológico maior do que o físico, o que alimenta a falsidade. Além disso, estar invisível atrás  de uma tela de um computador evita que a pessoa seja denunciada por sinais não verbais, como a timidez e o nervosismo aparentes.

Como lidar com o problema

Como lidar com um colega, subordinado ou líder mentiroso vai depender da mentira, do autor dela e das consequências para as pessoas envolvidas e para o interesses da organização. O mesmo vale para a punição a ser aplicada. No universo corporativo, o prejuízo de faltar com a verdade pode render desde uma advertência ou suspensão temporária até a dispensa do funcionário.

 Embora prevista em lei, a decisão de aplicar a punição cabe ao empregador.Pelo Artigo 482 da CLT, atos de improbidade validam a demissão por justa causa.Atos como apresentar documentos falsos de atestados médicos ou qualificações de ensino, por exemplo, se encaixam nessa categoria.

De qualquer forma, sempre que uma mentira é contada no ambiente de trabalho, o maior prejudicado é o seu autor. Primeiro, pela insegurança e estresse que o fato de contar uma mentira e o medo de vir a ser desmascarado podem gerar, com prejuízos para o bem estar e produtividade do empregado.

Além disso, o mais comum é que a equipe e o gestor percebam o comportamento mentiroso, sobretudo quando ele é recorrente, o que pode colocar em dúvida o caráter e credibilidade do profissional muitas vezes de forma irreversível. Talvez ele não seja demitido, mas poderá ser rebaixado, preterido em promoções e até excluído de projetos ou processos, o que lhe dificultará a vida no ambiente corporativo.

O papel do líder nesse processo

O individuo tem sempre a escolha entre mentir e dizer a verdade, mas os especialistas destacam que o líder têm responsabilidades na criação de ambientes á prova de desonestidades e subterfúgios. Culturas organizacionais rígidas, com alta pressão por resultados, gestores pouco acessíveis, e pouco abertas a aceitar erros como parte do aprendizado, acabam por estimular a mentira no ambiente profissional.

É claro que nada disso isenta o profissional do compromisso de ser honesto. Mas valorizar a transparência, a vulnerabilidade ao erro, assim como desenvolver na equipe a consciência de que a confiança é a base nas relações de trabalho saudáveis, ajuda a evitar a propagação de mentiras e os desgastes e efeitos danosos provocados por elas.

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